CONTOS

Contos são histórias contadas há milhares de anos, de geração em geração!

Contos populares são lendas, mitos, narrativas do folclore e histórias da literatura que, de tanto serem repetidas de geração em geração, têm importante papel na cultura brasileira. Confira estas histórias tradicionais que possuem lições valiosas guardadas em suas palavras. 

LENDAS AMAZÔNICAS: Desde que o explorador espanhol Vicente Pinzón descobriu o Mar Dulce (o primeiro nome do Rio Amazonas), em 1500, aqueles labirintos amazônicos foram cenário de viagens em busca de riquezas escondidas. Até hoje, aquelas terras isoladas, entre o Brasil, o Peru e a Bolívia, seguem inspirando expedições, sabe-se lá onde, até ruínas lotadas de ouro trazido pelos incas. A mais intrigante delas é a de Akakor, uma suposta cidade subterrânea em algum lugar da Amazônia que ganhou fama internacional a partir dos relatos de Hans Günther Hauck. Mais conhecido como Tatunca Nara, esse alemão de sotaque carregado ainda tenta convencer o mundo que é um indígena brasileiro, príncipe de Akakor, capaz de conduzir expedicionários em buscas das lendárias cidades-irmãs Akakor e Akahim. Se viajantes curiosos chegaram a ver pirâmides na maior floresta tropical do planeta ou cruzaram complexos sistemas de túneis, ninguém sabe, ninguém viu. Para quem fica do lado de cá, porém, a única certeza é que de lá ninguém volta.

Vitoria Regia, a lenda da estrela d'agua: Reza a lenda que a lua, Jaci, assim era seu nome entre os índios da região amazônica, era um deus muito namorador e que de tempos em tempos descia a terra e escolhia uma jovem para se tronar uma estrela ao seu lado. Com o que a lua não contava era com o amor da índia Naiá, que sonhava um dia se tornar uma estrela, para ficar junto se seu grande amor. Todas as noites a bela jovem aguardava para se juntar a Jaci, mas ele nunca veio buscá-la, triste por não ser uma das escolhidas, Naiá correu seu rumo pela mata, até chegar a um lago, vendo o reflexo da lua nas águas, ela pula sem pensar duas vezes na água, achando que seu amado tinha vindo buscá-la, porém com as águas fundas do lago, Naiá se afora. Jaci compadecido de sua morte e se seu amor, a transforma na Vitoria Regia a estrela da água que só floresce a noite.

O Cágado e a Fruta : O cágado foi o único inteligente capaz de garantir acesso a uma fruta muito difícil de ser comida. No entanto, uma onça esperta tentou aproveitar-se da inocência do cágado. No fim, ela logo aprendeu a lição dela. xistia na floresta uma fruta que todos os bichos tinham vontade de comer, Acontece que era proibido provar a tal fruta sem antes saber o seu nome. Somente uma mulher sabia o nome da fruta e ela morava longe da árvore. Os animais com frequência iam à casa dela para perguntar, mas a distância era tanta que quando voltavam já não se lembravam mais do nome da fruta e não podiam comê-la. Todos iam e voltavam, e nada de acertar o nome. Faltava somente o cágado. Bichos das mais diferentes espécies foram chamar o cágado para provar da fruta. Alguns caçoavam muito dele, dizendo: "Até parece que andando devagar daquele jeito vai lembrar de alguma coisa quando voltar". Pois o cágado partiu para a casa da mulher com sua violinha. Ao chegar, foi logo perguntando o nome da fruta. E a mulher falou: -boyoyôboyoyô-quizama-quizu. Que língua era aquela eu não sei, nem o cágado. Mas a mulher tinha mais um truque para fazer as pessoas esquecerem do nome, depois que cada bicho estava já distante da casa, ela gritava: "Ô amigo, o nome não é esse, não!" E dizia outros nomes bem estranhos. Os bichos se atrapalhavam e, quando chegavam ao pé de fruta, não sabiam mais o nome. Com o cágado foi diferente. Ele tirou a viola do saco e decorou o nome da fruta em forma de cantiga. E lá se foi cantarolando até a árvore. De olho nos frutos, a onça lhe fez uma proposta: "Amigo cágado, você como não pode subir na árvore, deixe que eu suba para tirar as frutas, e você me dá algumas". O cágado ficou desconfiado por se tratar de uma onça, mas aceitou. E aconteceu o esperado: ela encheu um saco de frutas e saiu correndo, sem dar uma sequer àquele que chamou de amigo. O cágado ficou uma arara de zangado com a onça. Correu (isso mesmo, correu!) atrás dela e conseguiu alcançá-la na beira do rio. Então, ele disse: "Onça, me dê o saco para eu atravessar. Sou melhor nadador, e você atravessa depois". A onça concordou, mas o cágado sabido, quando se viu na outra margem do rio, desapareceu, e a onça ficou do outro lado com cara de boba, porque não sabia nadar. Dizem que ela chamava pelo cágado, que respondia, mas ela não conseguia vê-lo. Sabe-se lá se ela achou que estava ouvindo vozes ou se morreu de raiva.

A Raposinha: Um príncipe determinado a ajudar seu pai, mas com dificuldade em aceitar os sábios conselhos da raposinha. Após tantas tentativas, o príncipe finalmente começa a ver sua sorte mudar. No caminho ele depara com um grupo agredindo o corpo de um homem falecido que deixara dívidas. O príncipe paga as dívidas e enterra o corpo do homem, cuja alma aparece ao rapaz na forma de uma raposa, que o ajuda a encontrar o remédio para curar o seu pai.

Uma fábula folclórica sobre uma onça e um boi, que vivem desconfiando um do outro. A peculiaridade é a presença de cascos de boi no lugar de suas patas, lhe dando uma aparência única - e aterrorizante. Ao contrário das onças comuns, que costumam ser solitárias, a lenda da 'Onça-Boi' relata que esses seres caçam em pares (um macho e uma fêmea), formando uma aliança na busca por presas.

A pedido da onça, o gato ensinou-lhe a pular. Mas, conhecendo a onça, resolveu ensinar sem dar os principais truques. Uma brincadeira em forma de conto popular que mostra o que os mestres podem fazer do seu conhecimento, sem passá-los de modo absoluto aos aprendizes. A onça pediu ao gato para lhe ensinar a pular. O gato rapidamente lhe ensinou. Depois, indo juntos para a fonte beber água, fizeram uma aposta para ver quem pulava mais. Chegando à fonte, encontraram lá o lagarto calango. Então, disse a onça para o gato:  — Compadre, vamos ver quem, num só pulo, pula o camarada calango. — Vamos, disse o gato. — Você pula adiante, disse a onça. O gato pulou em cima do calango e a onça pulou em cima do gato. Então, o gato pulou e se escapou. A onça ficou desapontada e disse: — Assim, compadre gato, é que você me ensinou?! Iniciou e não acabou... O gato respondeu: — Nem tudo os mestres ensinam aos seus aprendizes.

Cobra Norato : Uma lenda da região da Amazônia. Uma história sobre duas serpentes gêmeas que nasceram de uma indígena e um boto. Cobra Norato é uma das serpentes. Segundo a lenda, Cobra Norato é um dos gêmeos nascidos do relacionamento entre uma índia e um boto cor-de-rosa. Diferentemente de sua irmã, Maria Caninana, com quem vive no rio Tocantins, Cobra Norato tem bom relacionamento com a população da região, auxiliando barqueiros e pescadores em dificuldade.

Manoel da Bengala: Um conto de fadas sobre o príncipe que tinha a bengala de ferro: o Manoel Bengala. Por ser grande, robusto e comilão, foi mandado embora pelo rei, que ordenou que o príncipe seguisse a vida sozinho.  Um rei teve um filho que já nasceu muito grande e forte. No fim de oito dias, o menino já comia um boi inteiro. O rei ficou muito assustado e mandou chamar os conselheiros para lhe dizerem o que fazer, pois iria acabar com toda a fortuna do pai. Os conselheiros foram da opinião que o rei mandasse o filho procurar a sua vida. O príncipe pediu que lhe fizessem uma bengala de ferro, muito grossa e pesada, um machado e uma foice, também grandes e pesados, e partiu. Chegando à casa de um senhor de engenho, pediu serviço e o dono da casa o aceitou. Foi o moço derrubar uma roça, que deitou, em três ou quatro esforços com a foice, quase todas as matas do engenho. O dono ficou muito assustado e não o quis mais o seu serviço. Além disto, na hora de jantar, o príncipe não quis comer o que lhe deram, por não chegar nem para o buraco de um dente, e pediu um boi e muita farinha. O senhor do engenho, pensando que ele não pudesse comer tudo, mandou dar-lhe para o experimentar. Ficou espantado quando o viu devorar tudo. Despediu-o. Voltou o príncipe para o palácio de seu pai. Aí esteve alguns dias, até que o rei mandou de novo reunir os conselheiros, que foram de opinião que o rei mandasse o príncipe pegar seis leões bravos nas matas. Isto era para ver se os leões matavam-no. O moço pediu um carro e uma junta de bois. Chegando nas matas dos leões, passou lá seis dias. Em cada dia matava um boi do carro e pegava um leão, botava no lugar, e o amansava. Depois cortou umas árvores muito grandes, botou no carro e largou-se para trás. Quando o rei o viu, retornava o barulho das árvores e dos leões que vinham com Manoel da Bengala. Assim foi chamado o príncipe, por causa da bengala de ferro. O rei ordenou-lhe que ganhasse o mundo e não lhe voltasse mais em casa. O príncipe partiu. Chegando adiante, viu um homem passando um rio cheio, mas sem se molhar, e disse: — Adeus, Passa-Vau. — Adeus, Manoel da Bengala.

Dona Labismina : Um conto de fadas sobre um rei, uma filha em forma de cobra e uma princesa que seguia todos os conselhos da cobra, a Dona Labismina. Uma vez, uma rainha casada já há muito tempo, que nunca tinha tido filhos e tinha muita vontade de ter, disse: - Permita Deus que eu para nem que seja uma cobra. Passados tempos, apareceu grávida. E, quando deu à luz, foi uma menina com uma cobrinha enrolada no pescoço. Toda a família dela ficou muito desgostosa, mas não se podia tirar a cobrinha do pescoço da criança. E foram crescendo a menina e a cobrinha juntas. E a menina tomou muita amizade pela cobrinha. Quando já mocinha, ela costumava ir passear à beira do mar. E, lá, a cobra a deixava e fugia para as ondas. Mas a princezinha se punha a chorar, até que a cobra voltava e se enrolava outra vez no seu pescoço. E iam as duas para o palácio, onde ninguém sabia disso. Assim foram vivendo as duas, até que, um dia, a cobra entrou no mar e não voltou mais. Mas ela disse à irmã que, quando se visse em perigo, chamasse por ela. A cobra tinha o nome de Labismina, e a princesa o de Maria. Passados anos, caiu doente a rainha e morreu. Mas, na hora de morrer, a rainha tirou do dedo uma joia e deu ao rei dizendo: -Quando tiveres de casar outra vez, deve ser com uma princesa em que esta joia der, sem ficar nem frouxa nem apertada. Depois de alguns tempos, o rei quis se casar. E mandou experimentar a joia nos dedos das princesas de todos os reinos. E não encontrou nenhuma em que o anel coubesse, Por causa da forma que lhe tinha recomendado a rainha. Mas só faltava a princesa Maria, a sua filha. E o rei chamou-a. E botou a joia no seu dedo. E a joia ficou muito boa. Então, ele disse à filha que queria se casar com ela. E, como a palavra de rei não volta atrás, a moça ficou muito desgostosa. E vivia só chorando. A princesa Maria, então, foi ter com Labismina, na praia do mar. Gritou por ela. E a cobra veio. Maria contou-lhe o caso, e a cobra respondeu: - Não tenha medo. Diga ao rei que você só vai se casar com ele se ele lhe der um vestido da cor do campo, com todas as suas flores. Assim fez a princesa. E o rei ficou muito maçado. Mas lhe disse que iria procurar. E levou nisto muito tempo, até que, afinal, conseguiu. Aí a princesa tornou a ficar muito triste e foi ter com a irmã que lhe disse: Diga ao rei que você só vai se casar com ele se ele lhe der um vestido da cor do mar, com todos os seus peixes. A princesa assim fez. E o rei ainda mais aborrecido ficou. Levou muito tempo a procurar, até que arranjou. A moça foi ter outra vez com a Dona Labismina, que lhe disse: -Diga ao rei que você só vai se casar com ele se ele lhe der um vestido da cor do céu, com todas as suas estrelas. Ela assim disse ao pai, que ficou desesperado. Mas prometeu arranjar. E levou nisso ainda mais tempo do que nas duas outras vezes. Até que conseguiu. A princesa, quando o pai lhe deu o último vestido, se viu perdida. E correu para o mar, onde embarcou num navio que Dona Labismina tinha preparado durante o tempo em que o rei andou arranjando os vestidos. Antes da partida da princesa Maria, Labismina lhe recomendou que ela seguisse naquele navio e, em seguida, saltasse no reino onde o navio parasse. Lá naquela terra distante, ela encontraria um casamento com um príncipe. E, ainda, que, na hora de se casar, chamasse por ela três vezes, que ela se desencantaria numa princesa também. E, depois disso, Maria seguiu viagem. No reino em que o navio parou, ela saltou em terra. Não tendo do que viver, foi pedir um emprego à rainha, que a encarregou de guardar e criar as galinhas do rei. Passados tempos, houve três dias de festa na cidade. Todos os do palácio iam à festa, mas a criadeira de galinhas ficava. Só que, logo no primeiro dia, depois que todos saíram, ela se penteou, vestiu o seu vestido da cor do campo, com todas as suas flores, e pediu a Labismina uma bela carruagem. E foi também à festa. Todos de lá da festa ficaram muito embasbacados de ver moça tão bonita e rica. Mas ninguém sabia quem era. O príncipe, filho do rei, ficou logo muito apaixonado por ela. E, antes de terminar a festa, a moça partiu. E meteu-se na sua roupinha velha. E foi cuidar das galinhas. O príncipe, quando chegou ao palácio, disse à rainha: - A senhora viu, minha mãe, que moça bonita apareceu hoje na festa? Quem me dera eu me casar com ela. Só que aquela moça parecia com a criadeira de galinhas. -Não diga isso, meu filho. Aquela pobre podia ter roupa tão fina e rica? Vai ver como ela está lá embaixo e esmolambada. O príncipe foi onde estava a criada e lhe disse: - Ó criadeira de galinhas, eu hoje vi na festa uma moça que só se parecia com você. -Oxente, príncipe, meu senhor, você está querendo mangar de mim? Quem sou eu? No outro dia, nova festa. E a criadeira de galinhas foi, às escondidas, com o seu vestido cor do mar, com todos os seus peixes, e numa carruagem ainda mais rica. Ainda mais apaixonado ficou o príncipe, sem saber de quem. No terceiro dia, a mesma coisa. E a criadeira de galinhas levou o vestido da cor do céu, com todas as suas estrelas. O príncipe ficou tão entusiasmado que foi se pôr ao pé dela e lhe atirou no colo uma joia, que ela guardou. Chegando ao palácio, o príncipe caiu doente de paixão. E foi para a cama. Não queria tomar nem um caldo. A rainha rogava a todas as pessoas para lhe levarem algum caldo, para ver se ele aceitava. E era mesmo que nada. Afinal, só faltava a criadeira de galinhas. E a rainha mandou-a chamar, para levar o caldo ao príncipe. E ela respondeu: - Oxente, rainha minha senhora, a senhora está também querendo caçoar de mim? Quem sou eu para o príncipe, meu senhor, aceitar preparar um caldo da minha mão? O que eu posso fazer é preparar um caldo e mandar a ele. A rainha logo concordou. E a criada preparou o caldo. E botou, dentro da xícara, a joia que o príncipe lhe tinha dado na igreja. Quando ele meteu a colher e viu a joia, pulou da cama de tão contente. E disse para todos que já estava bom e que queria se casar com aquela moça que servia de criadeira de galinhas. Mandaram-na chamar. E, quando ela veio, já foi toda pronta, como quando ia à festa. E houve muita alegria e muito banquete. E a Princesa Maria se casou com o príncipe. Mas só que ela se esquecera de chamar pelo nome de Labismina, que não se desencantou. E, por isso, até hoje o mar dá urros e se enfurece às vezes. 

A Onça e o Bode: Acidentalmente, uma onça e um bode acabam dividindo a mesma casa. Entretanto, ambos têm medo de dividirem a casa, pois suspeitam que um possa querer se alimentar do outro.

O Menino e o Padre: Um menino inocente (ou muito danado) oferece ao padre algo para ele beber. Entretanto, na gentileza do menino se escondia o fato de que a bebida não estava nada própria para ser tomada.

O Papagaio Real: Um conto de fadas no estilo brasileiro. Nessa história, os pássaros transformam-se em príncipes, há um rei e duas irmãs, uma generosa e outra malvada.

O Jabuti e a Raposa: Uma fábula do folclore brasileiro, em que a raposa, que se acha muito esperta, rouba a flauta do jabuti. Mas ele sabe como atrair a raposa para buscar seu instrumento musical.

O Piolho e a Pulga: Esta historinha apresenta uma sucessão de eventos caóticos de uma maneira divertida e poética através de dois personagens. Certo dia, um piolho e uma pulga estão em uma cozinha preparando um mingau dentro de uma casca de ovo e, de repente, o piolho acaba caindo dentro da mistura e se queimando.

O Sapo com Medo D'Água: O sapo esperto que afirma temer a água. Sua esperteza salva a sua vida, enganando dois meninos que queriam matá-lo

A Madrasta: Um conto de fadas brasileiro: um viúvo conhece uma nova mulher, que é uma madrasta má. Ela resolve colocar fim na vida das três filhas dele, mas um milagre salva as meninas.

A Princesa Roubadeira: Uma princesa que adora fazer negociações e trocas, mas que acaba por se dar mal. De tanto querer vencer os presos, é ela que é vencida.

O Doutor Sabetudo: Um camponês descobre como ficar rico: ele precisa colocar um letreiro na porta que diga: "sou o Doutor Sabetudo". E não é que isto bastou para ele enriquecer, esperteza não é conhecimento de causa.

A Combuca de Ouro: Um rico resolveu dar a um pobre honesto uma cumbuca de vespas, mas, quando chegou nas mãos do pobre, virou uma cumbuca de ouro. Um conto popular pernambucano que usa elementos fantasiosos para transformar as vespas em ouro, dando uma lição ao rico que tinha más intenções.

O Homem Pequeno: Um conto de fadas sobre uma terra de uma família de gigantes, cheia de encantamentos, onde um príncipe vai parar por acaso, Uma vez um príncipe saiu a caçar com outros companheiros e entraram pela mata. O príncipe, que se chamava D. João, adiantou-se dos companheiros e se perdeu. Depois de muito andar, avistou um muro muito alto, que parecia uma montanha, e para lá se dirigiu. Quando lá chegou, notou que estava numa terra estranha, pertencente a uma família de gigantes. O dono da casa era um gigante enorme, que quase dava com a cabeça nas nuvens, tinha uma mulher também gigante e uma filha gigante de nome Guimara. Quando o dono da casa viu a D. João, gritou: Oh, homem pequeno, o que está fazendo aqui? O príncipe contou-lhe a sua história, e então o gigante disse: Pois bem, ficará aqui como criado. O príncipe lá ficou e, passados tempos, Guimara se apaixonou por ele. O gigante, que desconfiou da situação, chamou um dia o príncipe e lhe disse: Oh, homem pequeno! Tu disseste que te atrevias a derrubar numa só noite o muro das minhas terras e a levantar um palácio? Não, senhor meu amo. Mas, como manda, eu obedeço. O moço saiu e foi ver Guimara, que lhe disse: Não é nada. Eu vou e faço tudo. Assim foi: Guimara, que era encantada, deitou abaixo o muro. No outro dia, o gigante foi ver bem cedo a obra e ficou admirado.  Oh, homem pequeno? Sim?  Foste tu que fizeste esta obra ou foi Guimara?  Senhor, fui eu, não foi Guimara. Se meus olhos viram Guimara, e Guimara viu a mim, mau fim tenha eu. Passou-se. Depois de alguns dias, o gigante, que andava com vontade de matar o homem pequeno, lhe desafiou:  Oh, homem pequeno! Tu disseste que te atrevias a fazer da ilha dos bichos bravos um jardim cheio de flores de todas as qualidades e, com um cano a deitar, despejando água, tudo numa noite? Senhor, eu não disse isto, mas, como vossemecê, ordena eu irei fazer. Saiu dali mais morto do que vivo e foi falar com Guimara, que lhe disse: Não tem nada. Eu hoje faço tudo de noite. Assim foi. De noite, ela fugiu de seu quarto e, com o homem pequeno, trabalhou toda a noite, de maneira que no outro dia lá estava o jardim cheio de flores e com um cano despejando água. O gigante, dono da casa, foi ver a obra e ficou muito espantado. Então, formou o plano de ir à noite ao quarto de Guimara e ao do homem pequeno para os matar. A moça, que era adivinha, comunicou isto a D. João e convidou-o para fugir, deixando nas camas, em seu lugar, duas bananeiras cobertas com os lençóis para enganar o pai. Tarde da noite fugiram montados no melhor cavalo da estrebaria, o qual caminhava cem léguas de cada passada. O pai, quando os foi matar, não os encontrou. Disse o caso à mulher, que lhe aconselhou que partisse atrás montado no outro cavalo que caminhava cem léguas de cada passada. O gigante partiu e, quando ia chegando perto dos fugitivos, Guimara se virou riacho e D. João um negro velho, o cavalo num pé de árvore, a sela numa leira de cebolas e a espingarda, que levavam, num beija-flor. O gigante, quando chegou ao riacho, se dirigiu ao negro velho, que estava tomando banho: Oh, meu negro velho! Você viu passar aqui um moço com uma moça? O negro não prestava atenção, mergulhava n'água e, quando levantava a cabeça, dizia: — Plantei estas cebolas, não sei se me darão boas! Foi assim muitas vezes, até que o gigante se cansou e se dirigiu ao beija-flor, que lhe voou em cima, querendo furar-lhe os olhos. O gigante desesperou-se e voltou para casa. Chegando lá contou a história à sua mulher, que lhe disse: Como você é tolo, marido! O riacho é Guimara, o negro velho é o homem pequeno, a leira de cebola a sela, o pé de árvore o cavalo e o beija-flor a espingarda. Corra para trás e vá pegá-los. O gigante tornou a partir em velocidade até chegar perto deles, que se haviam desencantado e seguido a toda a pressa. Quando eles avistaram o gigante, a moça se transformou numa igreja, D. João num padre, a sela num altar, a espingarda no missal e o cavalo num sino. O gigante entrou pela igreja adentro, dizendo: Oh seu padre, o senhor viu passar por aqui um moço com uma moça? O padre, que fingia estar dizendo missa, respondeu: Sou um padre ermitão, Devoto da Conceição, Não ouço o que me diz. Dominus vobiscum. Foi assim muitas vezes, até que o gigante se aborreceu e voltou para trás frustrado. Chegando em casa, contou a história à mulher, que lhe disse: — Oh, marido! Você é muito tolo! Corra já, volte, que a igreja é Guimara, o padre é o homem pequeno, o missal a espingarda, o altar a sela, o sino o cavalo. O homem pequeno e Guimara se desencantaram e seguiram a toda a pressa. O gigante partiu rapidamente, botando as serras abaixo pelo caminho. Quando estava, de novo, quase a pegá-los, Guimara largou no ar um punhado de cinza e gerou-se no mundo uma neblina tal que o gigante não pode seguir e voltou. Depois disto, os fugitivos chegaram ao reino de D. João. Guimara, então, lhe pediu que, quando entrasse em casa, para não se esquecer dela por uma vez, que não beijasse a mão de sua tia. O príncipe prometeu, mas, quando entrou no palácio, a primeira pessoa que lhe apareceu foi sua tia, a quem ele beijou a mão, e se esqueceu, por uma vez, de Guimara, que o tinha salvado da morte. A moça lá ficou na terra estranha, perdendo o seu encanto. Então, ficou pequena como as outras e sempre triste. 

O homem por detrás do balcão, olhava a rua de forma distraída, enquanto uma garotinha se aproximava da loja, ela amassou o narizinho contra o vidro da vitrina. Os seus olhos da cor do céu, brilharam quando viu determinado objeto. Ela entrou na loja e pediu para ver o colar de turquesas azuis. - É para minha irmã. Você pode fazer um pacote bem bonito? O dono da loja olhou desconfiado para a garotinha e lhe perguntou: - Quanto dinheiro você tem? Sem hesitar, ela tirou do bolso da saia um lenço todo amarradinho e foi desfazendo os nós. Colocou-o sobre o balcão, e feliz disse: - Isto dá, não dá? (Eram apenas algumas moedas que ela exibia orgulhosa.) - Sabe, continuou, eu quero dar este presente para minha irmã mais velha. Desde que morreu nossa mãe, ela cuida de nós e não tem tempo para ela. Hoje é aniversário dela e tenho certeza que ela ficará feliz com o colar que é da cor dos olhos dela. - O homem foi para o interior da loja. Colocou o colar em um estojo, embrulhou com um vistoso papel vermelho e fez um laço caprichado com uma fita verde. - Tome! Disse para a garota. Leve com cuidado. Ela saiu feliz saltitando pela rua abaixo. Ainda não acabara o dia, quando uma linda jovem de cabelos loiros e maravilhosos olhos azuis adentrou a loja. Colocou sobre o balcão o já conhecido embrulho desfeito e indagou: - Este colar foi comprado aqui? - Sim senhora. - E quanto custou? - Ah! Falou o dono da loja. O preço de qualquer produto da minha loja é sempre um assunto confidencial entre o vendedor e o freguês. - A moça continuou: - Mas minha irmã somente tinha algumas moedas. E esse colar é verdadeiro, não é? Ela não teria dinheiro para pagar por ele. O homem tomou o estojo, refez o embrulho com extremo carinho, colocou a fita e o devolveu à jovem. - Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar. Ela deu tudo que tinha! O silêncio encheu a pequena loja, e lágrimas rolaram pela face da jovem, enquanto suas mãos tomavam o embrulho. Ela retornava ao lar emocionada... A verdadeira doação é dar-se por inteiro sem restrições. Gratidão de quem ama não coloca limites para os gestos de ternura. E a gratidão, é sempre a manifestação de Deus para com pessoas que tem riqueza de emoções e altruísmo. Seja sempre grato, mas não espere pelo reconhecimento de ninguém. Gratidão, assim como amor é, também dever que não apenas aquece quem recebe, como reconforta quem oferece. "Somos anjos de uma asa só, precisamos nos abraçar para alçar vôo juntos"

A ÁRVORE, Possui um amigo muito especial, o passarinho. Certo dia, a árvore ao ver o passarinho falou: - Amigo passarinho, você é muito importante para mim. Você carrega as sementes e come os bichos que estragam as minhas folhas. O passarinho piou e disse: - Árvore amiga, eu lhe devo minha vida. Aqui eu faço o meu ninho. Aqui eu pego a minha comida, aqui eu fico seguro dos perigos. A árvore logo disse: - Nessa vida, um amigo ajuda o outro.

Os passos do cara sombrio levam a um arbusto ao lado do parquinho, à esquerda do Centro Comunitário. Se o jogador interagir com o mato, o cara sombrio vai sair dele, pedir desculpas por roubar, dar ao jogador uma lupa e depois fugir. A lupa dá ao jogador a capacidade de encontrar notas secretas ao escavar, cortar árvores, minerar, pescar ou matar monstros. Uma vez encontrada, um recado secreto pode ser lido selecionando-o na linha superior do inventário e clicando com o botão direito do mouse (como se estivesse consumindo comida). Isso adicionará a nota à coleção do jogador e ativará a guia de coleção de recados secretos no menu do jogador. Solução : Atrás do Centro Comunitário, atrás do telhado, do lado da cerca de madeira, exatamente à divisória do prédio, está um Junimo de Pedra que pode ser removido utilizando uma Picareta. Nota: Caso o jogador se alie à Joja, não terá nenhuma estátua no local, mesmo se o jogador houver encontrado o Recado Secreto.

Na caminhada da vida, aprendi que nem sempre temos o que queremos. Porque nem sempre o que queremos nos faz bem. Foi preciso as dores, para que eu aprendesse com as lágrimas. Foi necessário o riso, para que eu não me enclausurasse com o tempo. Foi preciso as pedras, pra que eu construísse meu caminho. Foram fundamentais as flores, para que eu me alegrasse na caminhada. Foi imprescindível a fé, para que eu, não perdesse a esperança. Foi preciso perder, para que ganhasse de verdade. Foi no silencio que fui ouvido com clareza. Pois sem provas não tem aprovação. E a vitória sem conquista é ilusão. E a maior virtude dos fortes, é o PERDÃO. 

Na guerra...

- Meu amigo ainda não regressou do campo de batalha, senhor. Solicito permissão para ir buscá-lo - disse um soldado ao seu superior. - Permissão negada - respondeu o oficial - Não quero que você arrisque a sua vida por um homem que provavelmente está morto. O soldado, desconsiderando a proibição, saiu, e uma hora mais tarde regressou mortalmente ferido, transportando o cadáver de seu amigo. O oficial ficou furioso. - Eu te disse que ele já estava morto! Agora, por causa da sua indisciplina, eu perdi dois homens! Me diga: valeu a pena ir até lá para trazer um cadáver? E o soldado moribundo respondeu: - Claro que sim, senhor! Quando encontrei o meu amigo, ele ainda estava vivo e pôde me dizer: "Eu tinha certeza de que você viria!"

A cartomante, de Machado de Assis:

O enredo do conto A Cartomante gira em torno de um triângulo amoroso composto por um casal - Vilela e Rita - e um amigo de infância muito próximo do rapaz - Camilo. Com medo de ser descoberta, Rita é a primeira a consultar uma cartomante. Camilo, que inicialmente zomba da amante, afasta-se do amigo após começar a receber cartas anônimas a falar daquela relação extraconjugal. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Depois de receber um bilhete do amigo dizendo que precisava falar com ele urgentemente, Camilo fica aflito e, assim, antes de ir à casa de Vilela, resolve fazer o mesmo que a amante e também vai à cartomante, que o tranquiliza. Camilo vai à casa do amigo confiante de que a relação continuava em segredo, mas encontra Rita morta e ensanguentada. O conto termina com a morte de Camilo, assassinado por Vilela com dois tiros de revólver.

Existem momentos em nossas vidas que jamais iremos esquecer, momentos marcantes, coisas que fizemos que nunca esqueceremos, as vezes coisas boas as vezes ruins, coisas que nem sempre queremos recordar, mas sempre voltam a nossa cabeça, coisas que por mais que o tempo passe sempre lembraremos pois são coisas que mudaram nossas vidas e mesmo que mudemo-nos de cidade, de amigos, e até nosso jeito, sempre iremos recordar, momentos esses que muitas vezes queremos viver de novo e muitas queríamos que nem mesmo tivessem acontecido, mas aconteceram e só podemos fazer de tudo para esquece-los ou para nunca deixa-los irem embora de nossas mentes!

A FIGURA DO GAÚCHO: Por trás dos acontecimentos, Simões Lopes Neto mostra os valores do gaúcho através dos costumes do campo (os carretões puxados por bois) e por meio dos juízos de valores do narrador-personagem. Como já dito, Blau fica espantado com o desfecho que os homens deram ao animal, a ponto de concluir que o bicho da história era o homem. Nesse sentido, o narrador-personagem apresenta características pessoais conferidas ao homem gaúcho, como a honra, a valorização dos animais, a indignação com a cobiça. O tipo de discurso usado pelo narrador, como um homem decidido, crítico, honroso, etc., também se assemelha a caricatura gaúcha. A história da morte do boi, não foi um simples causo, foi algo que marcou a sua vida ("Olhe, nunca me esqueço dum causo que vi" [...]). Assim sendo, Blau faz questão de se posicionar, como vimos nas duas últimas frases do conto, que inclusive reitera o início do texto e confirma a sua tese.  O discurso foi construído para que o interlocutor se convencesse que bicho mau é o homem

Conta a lenda que um Rei, ao caçar na floresta, foi mortalmente ferido, sendo salvo por uma bruxa velha e feia. Em sinal de gratidão o Rei disse a ela que poderia pedir o que quisesse. Ela, então, diz que quer se casar com ele. O amigo mais próximo do Rei, sabendo da dificuldade que isso traria, se oferece para casar-se em seu lugar. A bruxa aceita. Realizadas as núpcias, na noite em que se consumaria a união, o amigo do Rei vê entrar em seus aposentos a mais linda mulher do mundo. A bruxa, transformada em princesa, diz à ele que pode escolher tê-la bela, de dia ou à noite. O bom homem, enternecido pelo oferecimento, diz a ela que a escolha não pode ser dele, mas dela. Em razão disso, a bruxa horrenda passa a apresentar-se, para seu amado e o mundo, tão bela durante o dia quanto durante à noite.

O Manantial: Mariano chega a cidade com sua filha Maria Altina, sua sogra, a irmã da sogra, uns negros e uma negra chamada Mãe Tanásia. Eles criaram as meninas nas palmas de suas mãos e quando, pela primeira vez, ela apareceu na cidade, muitos rapazes se enamoraram por ela mas o que mais lhe agradou foi André, que lhe deu uma rosa vermelha, a qual sempre estava presa em seu cabelo. Havia outro rapaz que também gostava muito de Maria Altina, era o filho de Chico Triste, o Chicão. Chicão sempre tentava agradar a moça com presentes do tipo: ovos de perdiz, pequenos filhotes de mula, veadinhos, gatos... Vendo que a moça não se agradava muito com seus presentes, ele a enviou filhotes de avestruz com as asas e patas cortadas. A moça se apavorou e ficou com medo do rapaz. Quando a notícia do casório de Maria Altina com André espalhou-se pela cidade, Chicão se enfureceu e foi até a casa da menina. Estavam lá apenas a Mãe Tanásia, uma das velhas na cozinha fazendo beijus e Maria sentada na varanda confeccionando um timãozinho (casaquinho). De repente ouviu-se um grito vindo da cozinha, era a avó gritando "Bandido! Bandido!" e depois ouviu-se um grito final. Maria foi socorrê-la e deparou-se com Chicão que tentou repontar a rapariga (abusar dela). Ela conseguiu fugir dele e correu com o cavalo para o meio do Manantial, acabou caindo no lodaçal e morreu, só sobrou a rosa que estava em seu cabelo boiando no lodaçal, atrás dela Chicão também caiu no lodaçal e ficou preso, com lama até os suvacos. Mãe Tanásia que viu tudo, saiu correndo para a casa do Brigadeiro Machado onde estava acontecendo um batizado e estavam presentes, Mariano e a outra velha. No caminho ela encontrou Chicão afundado na lama. Quando ficaram sabendo do ocorrido todos foram até o Manantial e Mariano quis matar Chicão. Deu um tiro no ombro dele e a mãe de Chicão implorou que Mariano não o matasse. Então Mariano pulou no lamaçal e enforcou Chicão, que afundado na lama, levou Mariano consigo que também faleceu. Com o padre missioneiro, fizeram uma oração para os falecidos e velaram a velha morta. Blau Nunes conta que passara pelo lamaçal outras vezes e a rosa continuava lá, bonita e viva, como se estivesse sendo alimentada pelo sangue do coração de Maria Altina que continuava ali. (Carlos Drummond de Andrade)

Num vôo da British Airways entre Johanesburgo e Londres, uma senhora branca de uns cinquenta anos senta-se ao lado de um negro. Ela chama a aeromoça para se queixar. - Qual é o problema, senhora? - pergunta a aeromoça. - Mas tu não esta vendo? - responde a senhora - Tu me colocou ao lado de um negro. Eu não consigo ficar ao lado destes nojentos. Me dê um outro assento. - Por favor, acalme-se - diz a aeromoça - Quase todos os lugares deste vôo estão tomados. Vou ver se há algum lugar na executiva ou na primeira classe. A aeromoça se afasta e volta alguns minutos depois. - Minha senhora - explica a aeromoça - como eu suspeitava, não há nenhum lugar vago na classe econômica. Eu conversei com o comandante que confirmou que não há mais lugar na executiva. Entretanto, ainda temos um assento na primeira classe. Antes que a megera pudesse responder algo, a aeromoça continuou: - É totalmente inusitado a companhia conceder um assento de primeira classe a alguém da classe econômica, mas, dadas as circunstâncias, o comandante considerou que seria escandaloso que alguém seja obrigado a sentar-se ao lado de uma pessoa tão execrável... E, dizendo isso, ela se vira para o negro e diz: - Se o senhor quiser fazer o favor de pegar seus pertences, eu já preparei aquele assento para o senhor... E todos os passageiros ao redor que acompanharam a cena se levantaram e bateram palmas para a atitude da companhia.

O local estava deserto quando sentei-me para ler embaixo dos longos ramos de um velho carvalho. Desiludido da vida, com boas razões para chorar, pois tinha a impressão que o mundo estava tentando me afundar. E se não fosse razão suficiente para arruinar o dia, um garoto ofegante chegou perto de mim, cansado de brincar. Ele parou na minha frente, cabeça pendente, e disse cheio de alegria: - Veja o que encontrei! Na sua mão uma flor. E que visão lamentável! Estava murcha com muitas pétalas caídas... Querendo ver-me livre do garoto com sua flor, fingi pálido sorriso e virei-me. Mas ao invés de recuar, ele sentou-se ao meu lado, levou a flor ao nariz e declarou com estranha surpresa: - O cheiro é ótimo, e é bonita também... Por isso a peguei. Pegue-a, é sua! A flor à minha frente estava morta ou morrendo. Nada de cores vibrantes como laranja, amarelo ou vermelho, mas eu sabia que tinha que pegá-la, ou ele jamais sairia de lá. Então estendi-me para pegá-la e respondi: - Era o que eu precisava... Mas, ao invés de colocá-la na minha mão, ele a segurou no ar sem qualquer razão. Nessa hora notei, pela primeira vez, que o garoto era cego, e que não podia ver o que tinha nas mãos. Senti minha voz sumir. Lágrimas despontaram ao sol, enquanto lhe agradecia por escolher a melhor flor daquele jardim. - De nada... - respondeu sorrindo. E então voltou a brincar sem perceber o impacto que teve em meu dia. Sentei-me e comecei a pensar como ele conseguiu enxergar um homem auto-piedoso sob um velho carvalho. Como ele sabia do meu sofrimento auto-indulgente? Talvez no seu coração ele tenha sido abençoado com a verdadeira visão. Através dos olhos de uma criança cega, finalmente entendi que o problema não era o mundo, e sim EU! E por todos os momentos em que eu mesmo fui cego, agradeci por ver a beleza da vida e apreciar cada segundo que é só meu. Então levei aquela feia flor ao meu nariz e senti a fragrância de uma bela flor, e sorri enquanto via aquele garoto com outra flor em suas mãos prestes a mudar a vida de um insuspeito senhor de idade... As melhores coisas da vida são vistas com o coração!

Um homem tinha quatro filhos. Ele queria que os seus filhos aprendessem a não julgar as coisas de modo apressado, por isso, ele mandou cada um viajar para observar uma pereira que estava plantada num distante local. O primeiro filho foi lá no Inverno, o segundo na Primavera, o terceiro no Verão e o quarto e mais jovem, no Outono. Quando todos eles retornaram, ele reuniu-os e pediu que cada um descrevesse o que tinham visto. O primeiro filho disse que a árvore era feia, torta e retorcida. O segundo filho disse que ela era recoberta de botões verdes e cheia de promessas. O terceiro filho discordou. Disse que ela estava coberta de flores, que tinham um cheiro tão doce e eram tão bonitas, que ele arriscaria dizer que eram a coisa mais graciosa que ele tinha visto. O último filho discordou de todos eles; ele disse que a árvore estava carregada e arqueada, cheia de frutas, vida e promessas... O homem, então, explicou a seus filhos que todos eles estavam certos, porque eles haviam visto apenas uma estação da vida da árvore... Ele falou que não se pode julgar uma árvore, ou uma pessoa, por apenas uma estação, e que a essência de quem eles são e o prazer, a alegria e o amor que vêm daquela vida, podem apenas ser medidos ao final, quando todas as estações estiverem completas. Se você desistir quando for Inverno, você perderá a promessa da Primavera, a beleza do Verão, a expectativa do Outono.

"Não, não é conto. Sou apenas um sujeito que escuta algumas vezes, que outras não escuta, e vai passando. Naquele dia escutei, certamente porque era a amiga quem falava. É doce ouvir os amigos, ainda quando não falem, porque amigo tem o dom de se fazer compreender até sem sinais. Até sem olhos. Falava-se de cemitérios? De telefones? Não me lembro. De qualquer modo, a amiga - bom, agora me recordo que a conversa era sobre flores - ficou subitamente grave, sua voz murchou um pouquinho.  - Sei de um caso de flor que é tão triste! E sorrindo: - Mas você não vai acreditar, juro. Quem sabe? Tudo depende da pessoa que conta, como do jeito de contar. Há dias em que não depende nem disso: estamos possuídos de universal credulidade. E daí, argumento máximo, a amiga asseverou que a história era verdadeira. - Era uma moça que morava na Rua General Polidoro, começou ela. Perto do Cemitério São João Batista. Você sabe, quem mora por ali, queira ou não queira, tem de tomar conhecimento da morte. Toda hora está passando enterro, e a gente acaba por se interessar. Não é tão empolgante como navios ou casamentos, ou carruagem de rei, mas sempre merece ser olhado. A moça, naturalmente, gostava mais de ver passar enterro do que não ver nada. E se fosse ficar triste diante de tanto corpo desfilando, havia de estar bem arranjada. Se o enterro era mesmo muito importante, desses de bispo ou de general, a moça costumava ficar no portão do cemitério, para dar uma espiada. Você já notou como coroa impressiona a gente? Demais. E há a curiosidade de ler o que está escrito nelas. Morto que dá pena é aquele que chega desacompanhado de flores - por disposição de família ou falta de recursos, tanto faz. As coroas não prestigiam apenas o defunto, mas até o embalam. Às vezes ela chegava a entrar no cemitério e a acompanhar o préstimo até o lugar do sepultamento. Deve ter sido assim que adquiriu o costume de passear lá por dentro. Meu Deus, com tanto lugar pra passear no Rio! E no caso da moça, quando estivesse mais amolada, bastava tomar um bonde em direção à praia, descer no Mourisco, debruçar-se na amurada. Tinha o mar à sua disposição, a cinco minutos de casa. O mar, as viagens, as ilhas de coral, tudo grátis. Mas por preguiça pela curiosidade dos enterros, sei lá por quê, deu para andar em São João Batista, contemplando túmulo. Coitada! (...)."